Kamila Olstan
"Acho que a gente não precisa de mais produtos, pois já estamos cheios. Nós precisamos de ideias”.
A primeira lembrança de uma máquina de costura vem da avó que passava horas na produção. E desde muito nova, Kamila Olstan já criava as próprias roupas. Quando adolescente, com o orçamento apertado, ela recorria aos brechós, onde selecionava itens que pudesse desmanchar para reaproveitar os tecidos. Naquele tempo, o termo upcycling ainda não havia chegado por aqui, mas era exatamente o que ela fazia: dava vida nova a peças que já haviam chegado ao fim do ciclo. “Quando fui um fazer curso de moda, descobri que esse jeito de costurar que eu adquiri desde pequenininha modelou meu jeito de criar também. E a folha em branco, que normalmente era o primeiro passo da criação, me dava um certo pânico. Na verdade, eu consigo criar a partir de um tecido, um retalho ou algo assim. Acho que ali tem um problema que eu preciso resolver e isso me incentiva”.
A partir desse conceito de reaproveitar peças no fim do ciclo e tecidos descartados pela indústria, Kamila criou em 2012 a marca Farrapo. As primeiras peças foram vendidas num brechó de Curitiba. A proposta deu certo e hoje ela vende as criações em feiras e eventos, além de um espaço colaborativo.
A entrevistada conta que as coleções são pequenas e as peças são únicas, tendo a sustentabilidade como um dos pilares da produção. Tudo é feito sem pressa e elaborado com cuidado e afeto. Talvez por isso Kamila se enxergue como artesã. “Considero que eu faço um artesanato contemporâneo. E tenho visto que as pessoas estão entendendo o valor disso, do desacelerar, do feito à mão, com mais afeto… Acredito que finalmente me encontrei, conseguindo unir o ofício a uma ideia por trás, porque não é só um produto. Acho que a gente não precisa de mais produtos, pois já estamos cheios. Nós precisamos de ideias”.